Sinopse: Um grupo de redatores, reunido ao acaso, prepara um jornal. Não se trata de um jornal informativo; seu objetivo é chantagear, difamar, prestar serviços duvidosos a seu editor. Um redator paranoico, vagando por uma Milão alucinada (ou alucinado numa Milão normal), reconstitui cinquenta anos de história sobre um cenário diabólico, que gira em torno do cadáver putrefato de um pseudo-Mussolini. Nas sombras, a Gladio, a loja maçônica P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese, a CIA, os terroristas vermelhos manobrados pelos serviços secretos, vinte anos de atentados e cortinas de fumaça — um conjunto de fatos inexplicáveis que parecem inventados, até um documentário da BBC mostrar que são verídicos, ou que pelo menos estão sendo confessados por seus autores. Uma história que se passa em 1992, na qual se prefiguram tantos mistérios e tantas loucuras dos vinte anos seguintes. Uma aventura amarga e grotesca que se desenrola na Europa do fim da Segunda Guerra até os dias de hoje.
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Resolvi ler esse livro porque fiquei com Umberto Eco na cabeça. A notícia triste de sua morte abalou o mundo da literatura, no mesmo dia 20 de fevereiro morreu também Harper Lee (O Sol é para todos). Foi um dia difícil. Mas por sorte essas pessoas não se vão por completo, ficam em suas obras.
Eu li O nome da rosa há alguns anos, em 2010, e gostei muito, apesar do começo ser bem descritivo e coisa e tal. Afinal a história acontece em uma abadia. E fiquei boba com a completa mudança em Número Zero. Estamos de volta a Itália, só que nos anos 90, a narrativa é bem rápida como se estivéssemos trabalhando na redação desse estranho jornal, que na verdade não é tão e estranho assim. Há uma crítica ao jornalismo quando é feito segundo interesses explícitos que fogem ao de informar. É claro que no livro isso é levado ao exagero, como uma sátira.
Para gostar mesmo desse livro o leitor tem que ter um interesse em jornalismo, fatos históricos, crítica social… O livro tem 207 páginas, e fiquei de primeiro momento sentindo falta de algo acontecer de inesperado no final, mas depois pensei que na verdade é uma história com um lado real e uma crítica mais importante. Com um final mais voltado para a crítica de como a sociedade consome a notícia.
Digo que o leitor tem que gostar de história, porque temos um personagem investigando várias ligações e grupos, e ele quando desengata a falar conta as coisas sem parar e dá até para se perder um pouco. É interessante saber mais sobre como as coisas aconteceram na Itália, o governo de Mussolini e várias teorias da conspiração, algumas mais reais e outras já meio mirabolantes. Já li tantos livros que abordam o Nazismo, e percebi que lembrava pouco sobre o Fascismo. Acho que na escola estudei mais o primeiro e via o fascismo quase como algo derivado, mas lendo o livro percebi mais a dimensão dos acontecimentos na Itália.
O livro é narrado por Callone, alguém que acredita que não deu certo na vida e é convidado por um ex-professor a ajudá-lo com um jornal quase fictício. Um jornal que está sendo escrito porque um Comendador está interessado em ameaçar certas pessoas e a ideia é conseguir só mostrando as versões teste os “Números zeros” (que seriam poucas impressões para mostra a investidores e outros interessados). Durante as reuniões de pauta fica claro que nada pode ser “publicado” que possa prejudicar algum interesse do Comendador. E não são poucos os interesses. Acompanhamos as reuniões até que a situação fica perigosa.
O Comendador quer entrar para o clube de elite das finanças, dos bancos e, quem sabe, dos grandes jornais. O instrumento é a promessa de um novo diário disposto a dizer a verdade sobre todas as coisas. Doze números zeros, digamos 0/1, 0/2, e assim por diante, impressões em pouquíssimos exemplares reservados que o Comendador vai avaliar e depois dará um jeito para que sejam vistos por pessoas que ele lá sabe.
Callone tem um jeito bem irônico de contar essa história e se deixa embarcar nessa mesmo no fundo achando que é algo errado. Mas aos poucos ele vai se envolver com uma das redatoras que ajuda a mostrar a ele o quão antiético é esse trabalho e o faz querer cair fora. Mas as coisas são complicadas.
Já leu algo do Umberto Eco? Não deixe de comentar se gostou! E críticas e dicas são sempre bem vindas.