Hoje no projeto Conhecendo Cervantes é dia de falar do livro Novelas exemplares, a cada sexta falaremos de duas e para começar temos: Novela da Ciganinha e Novela do Amante Mentiroso. O livro contém 12 novelas e foi publicado pela extinta Cosac Naif, numa edição maravilhosa, com um sumário todo ilustrado por Vânia Mignone (uma ilustração para cada novela, confira mais no vídeo).
Sinopse: Antes da publicação da segunda parte de Dom Quixote, em 1613, Cervantes lança uma outra aventura: Novelas exemplares. Como gênero literário, a novela já existia, mas, como nota o próprio Cervantes, ele é o primeiro a tentá-la na Espanha. Ele experimenta o gênero em todas as direções possíveis, com relatos bizantinos, cortesãos ou picarescos. E mais: busca estabelecer um padrão realista, fala do cotidiano das pessoas, de uma Espanha que podia ser vista da janela de casa. É interessante notar como ele, filho de uma sociedade machista, sabe das dores femininas e pinta mulheres inteligentes e espirituosas, quando outros as queriam apenas lindas e submissas. É exemplar como Cervantes, homem de temperamento satírico, conseguiu despistar a censura, deixando transparecer entre exaltações aos reis e à Igreja, seu país violento e sensual, trapaceiro e cobiçoso, em que o estupro, por exemplo, é aceito com naturalidade, e um casamento é o único sinal de respeito que se tem pelas mulheres. A edição traz aparatos críticos de estudiosos do autor, notas, poemas em sua versão original e ilustrações.
Você pode ler a resenha ou preferir assistir o vídeo clicando aqui ou no final da página.
No prólogo desse livro Cervantes se apresenta como autor de Dom Quixote e diz novamente que não queria ter que fazer um prólogo. E ali faz um marcante retrato de si mesmo e explica que chamou de exemplares suas novelas porque de todas se pode tirar um exemplo proveitoso e que são histórias para lazer e descanso da alma. Eu achei as duas primeiras divertidas, com personagens valentes e cheias de reviravoltas e conflitos.
A Novela da Ciganinha me lembrou em alguns momentos o livro de Victor Hugo O Corcunda de Notre Dame, por conta do preconceito com que os ciganos eram representados e a dúvida sobre a honestidade deles. Na novela de Cervantes os próprios ciganos explicam que estão ali para roubar e se dar bem, e nunca podem perder a chance. Mas ao mesmo tempo todos eles tem orgulho de morarem acampados e de sua comunidade, e na maioria do tempo tem atos honrados e bons.
Na história conhecemos uma jovem cigana que se destaca entre todas, é comum nas histórias de Cervantes a presença de uma mulher que provoca paixão instantânea em todos, chamada Preciosa. Ela foi criada por uma cigana idosa a que chama de avó, masque não fica claro o parentesco, e aprendeu a dançar e cantar de forma divina, assim sempre garantiu muito dinheiro e aos poucos fama. O mais bacana é que ela também é inteligente e dona de uma sabedoria que impressiona a todos. Todos os seus predicados vão atrair um jovem rico que prefere largar tudo para seguir com ela. Mas ela pede dois anos ao rapaz enamorado, para que ele viva com os ciganos e tenha certeza do que quer e não se arrependa. esse abandona a família e fica escondido entre eles. A trama é cheia de reviravoltas que não posso contar para não estragar, mas os personagens surpreendem.
Essa trama já achei exagerada na quantidade de reviravoltas, e enquanto gostei muito da personagem feminina da história anterior, aqui achei que ela não teve muito destaque e ficou sendo jogada de um lado para o outro. Apesar de no final a decisão ser somente dela. Em a Novela do Amante Mentiroso, temos um triângulo amoroso entre Leonisa, Ricardo e Cornélio em que Ricardo é o que não é correspondido a princípio. Mas em uma desventura Leonisa e Ricardo são sequestrados por piratas mouros, e novamente a personagem feminina é aquela em que bateu o olho o cara se apaixona, mas aqui isso vai render uma disputa entre mouros e cristãos em uma grande confusão. Só mesmo um plano bem elaborado para que a moça escape intacta.
Segundo Silvia Massimi Felix, que escreveu um dos textos de apoio do livro, que vem na parte final “Anexos”, chamado As Novelas Exemplares: Origem, Cronologia e Classificação tudo indica que as novelas foram escritas em anos diferentes e depois revistas para a publicação em 1613 (depois do primeiro volume de Dom Quixote). E que é muio difícil caracterizar as novelas como sendo de um tipo já que elas são “simultaneamente: críticas e conformistas, realistas e idealistas, sérias e burlescas”. Ela também destaca que na Espanha não era comum histórias curtas como essa e que a prosa narrativa era pouco estimada entre os cultos de sua época que preferiam o teatro e a poesia.
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