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Laranja mecânica + Fahrenheit 451

Há algumas distopias clássicas que venho buscando ler, Fahrenheit 451 estava na lista há bastante tempo, pois sempre ouvi comentários maravilhosos e menções a obra. Laranja mecânica também, mas houve um empurrãozinho do grupo de leitura Pacto Literário no mês de Novembro (clique aqui e veja o grupo no facebook). No começo de 2017 eu também li Admirável Mundo Novo do Aldous Huxley, e não poderia deixar de mencionar  aqui O Conto da Aia da Margaret Atwood (assistam a série também). Ainda tá me faltando ler algo do George Orwell, preciso adquirir 1984.

> Também tem vídeo no canal sobre os dois livros, clique aqui para assistir.

Todos esses livros são excelentes e necessários, nos dão aquela sacudida de que precisamos ficar atentos a nossa realidade, ir sempre contra qualquer forma de fanatismo, cerceamento da liberdade, opressão das opiniões individuais. Os discursos de quem quer controlar o mundo ao seu bel prazer é sempre convidativo: “mais segurança e mais ordem, a culpa é dessa bagunça, desse caos, dessa falta de moral…”. Não engulam essa! Leiam esses livros e vejam no que esse papinho pode dar.

Vou começar falando de Laranja Mecânica do Anthony Burgess, que é um leitura desafiadora no começo com sua ultraviolência. Ao conhecermos o personagem Alex topamos com um adolescente que se diverte cometendo crimes e atos extremamente violentos, foi a parte do livro que eu fiquei ansiosa para que acabasse logo, queria já saber no que aquilo ia dar e qual o remédio para isso. As partes chocam, a maldade choca, mesmo tendo um tom de humor com todas as gírias e a ambientação meio futurista, e mesmo que os atos de violência não seja nada que não aconteça na nossa sociedade gera um incômodo. Talvez por estar tudo canalizado em Alex e sua gangue.

E o desfecho não é o que eu imaginava, o autor traz ao debate até onde o controle sobre o homem e a manipulação dele pode ser feita para acabarmos com a violência, sem toparmos com um regime totalitário. Não dá para concordar com o método usado no livro, embora eu não consiga perdoar Alex facilmente, cada pessoa precisa ter suas escolhas de pensamento.  É um livro que te desafia o tempo todo. O filme também é muito bom, com um jeito de caricatura, com cenas bem absurdas baseadas no livro, é bem fiel a ele.

A linguagem é outra coisa bem peculiar do livro, temos todo um vocabulário, com direito a glossário no fim. Eu comecei consultando e acabei parando, com o tempo você pega o jeito e fica tudo horrorshow! As palavras que mais tive dificuldade de gravar foram as partes do corpo, mas também onde exatamente a pessoa foi atingida nem é nada muito importante. hahahah

Agora mudando para Fahrenheit 451 do Ray Bradbury, esse livro afeta diretamente a nós que amamos ler, porque todos os livros foram queimados e quem ainda tem é denunciado e a fogueira é armada como um circo. O prefácio do livro é bem interessante e relaciona ele com outras distopias que falei no começo do texto, mas ele conta o final! Então se você não gosta de spoiler leia a história primeiro.

A denúncia que esse livro faz é de que a maioria topou essa caça aos livros, a desculpa é que eles incomodavam uns e outros, cada minoria se incomodava com alguma coisa por conta deles. Para mim os melhores livros são os que nos incomodam mesmo, mas no livro isso não é visto dessa forma pela sociedade. Então, fogo neles!

As pessoas passam o dia sobre o poder de narcóticos ou ligadas em televisões que só passam conteúdos que também tem esse efeito. As pessoas não conversam mais, não discutem mais, só vegetam. (Isso também acontece em Admirável Mundo Novo em que há essa presença das drogas e de conteúdos extremamente sensoriais, veja a resenha depois clicando aqui.) E sentem que são felizes assim, a maioria não quer ser incomodada. E enquanto isso a guerra rola, aviões de guerra sobrevoam e ninguém se incomoda. O livro denúncia o poder da leitura, e como não acreditar no comodismo das pessoas, se cerca de 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro.

Os bombeiros raramente são necessários. O próprio público deixou de ler por decisão própria. Vocês, bombeiros, de vez em quando garantem um circo no qual multidões se juntam para ver a bela chama de prédios incendiados, mas, na verdade é um espetáculo secundário, e dificilmente necessário para manter a ordem. São muito poucos os que ainda querem se rebelar.

Ironicamente os responsáveis pela queima dos livros são os bombeiros, no enredo as casas são feitas de materiais que não pegam fogo então eles assumem essa nova função. O personagem principal, Montag, é um deles até que conhece uma garota diferente, que quer conversar, observar a natureza, e o interpela na rua. Depois disso ele vai perceber como na verdade vive uma vida infeliz, com uma mulher catatônica e o absurdo de queimar livros e pessoas que resistem junto. Então ele resolve mudar e até arranja um aliado, mas não pense que as coisas vão ser fáceis a partir daí e teremos um herói que simplesmente derrubará o sistema, como nos apresentam nas distopias atuais, que criticam mas também amenizam um pouco. A questão é bem complicada e permanece complicada até o final para Montag, apesar de uma solução demorada ser apresentada por outros sobreviventes. Os embates intelectuais entre Monstag, seu chefe e o amigo que também ama livros são as melhores partes.

Essa pra mim foi uma leitura que não flui tão bem, fiz aquela forcinha para terminar logo. Lógico que fiquei admirada com todas as questões levantadas e com os paralelos que podemos tirar disso na situação atual (a história até se passa mais ou menos na nossa época), mas não consegui me conectar tanto quanto gostaria com os personagens.

O que interessa aqui, porém é frisar a singularidade da distopia de Bradbury. Pois enquanto Huxley e Orwell escrevram seus livros sob o impacto dos regimes totalitários (nazismo e stalinismo), Bradbury percebe o nascimento de uma forma mais sutil de totalitarismo: a indústria cultural, a sociedade de consumo e seu corolário ético _ a moral do senso comum. (Manuel da Costa Pinto, prefácio do livro, pg 15.)

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Autor:

Estudante de Jornalismo na UFF, leitora voraz, que gosta muito de dividir com os amigos o que lê, o que gosta de ler e o que amou ler.

3 comentários em “Laranja mecânica + Fahrenheit 451

  1. Sinceramente, você deveria ser uma exímia contadeira de histórias… Vou deixar a indicação do Livro: A ARTE DA PAVRA E DA ESCRITA de Regina Machado ed. Reviravolta Carlos Barbosa – Técnico em Meio Ambiente, Fotógrafo, Contador de histórias, Especialista da obra da escritora  Sylvia Orthof… (31)9769-4130 crmb16@yahoo.com.br/carlosroberto.barbosa@copasa.com.br “”NO FUTURO É A PALAVRA QUE VAI CONSERTAR AS PESSOAS. O REMÉDIO ENTRARÁ PELO OUVIDO.”

  2. Oi Tha,
    Bela resenha, também tenho essa vontade de ler os clássico, mas preciso por em prática.
    Laranja mecânica vi o filme do Kubrick, mas não tenho lá essa vontade de lê-lo. Também não concordo com o método de reversão do Alex.
    Já Farenheit 451 não conhecia. Mas o que? Queimar os livros?? Jamais!! rs.. Não sei se vai concordar comigo, mas quando leio esses clássicos a leitura não flui, seja por causa da linguagem, ou seja por causa de detalhamentos excessivos.
    Enfim, gostei da sua resenha e todos esses clássicos tem a ideia original, questionar a sociedade!
    Um beijo

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