Sinopse: A história tem início nos pátios e salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de “as três Marias”. À noite, deitadas na grama e olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. Com o passar do tempo, Maria da Glória se transforma em uma dedicada mãe de família e Maria José se entrega por completo à religião. Guta, por outro lado, não se sente capaz de seguir os passos de nenhuma de suas velhas companheiras. Apesar de sua formação conservadora e rígida, ela sempre desejou ir muito além dos portões e muros daquele internato. Seus instintos a instigavam a procurar e explorar novos mundos. Assim, Guta termina a colégio e corre em busca de sua independência. A realidade, no entanto, se mostra muito diferente daquilo que estava descrito nos romances açucarados e livros de poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras. Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e à morte. “As Três Marias”, publicado originalmente em 1939, conquistou o cobiçado prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira e, décadas depois, foi adaptado como uma novela para a televisão.
As Três Marias foi o quarto romance da escritora cearense Rachel de Queiroz e meu primeiro contato com sua obra, posso dizer que fui cativada. Uma história que nos fala tanto mesmo sem se fechar completamente. Muitas mulheres, com facetas diferentes e o espírito livre da principal personagem e narradora Guta.
Em um internato em que a divisão das classes sociais também existe como do lado de fora, as meninas lidam com isso de formas diferentes. O “não poder se misturar” com as meninas do orfanato, o ver amigas que vem de lares pouco ortodoxos sofrerem injustiças e muitas outras situações como a tentativa de fuga faz parte dessas lembranças quase autobiográficas da autora que também viveu em um internato.
O futuro incerto e muitas vezes doloroso da personagem Guta mostra uma personagem que não tem medo de se aventurar, ou que até tem mas que busca sua própria história. Ela não aceita bem a vida como dona de casa junto à madrasta e o pai, acaba trabalhando como datilógrafa e conhecendo o amor por conta própria, numa história bem real.
A escrita da autora é fantástica, apesar da linguagem ser simples e direta é de uma leveza impressionante. É impossível não falar dela sem dizer que foi a primeira mulher a ser uma imortal da Academia Brasileira de Letras, feito que só aconteceu na década de 70! Foi ela a primeira a quebrar o tabu de que lá era só para homens, e não foi a primeira a tentar. O preconceito com a literatura feita por mulheres era tão evidente que Graciliano Ramos disse que seu primeiro livro, O Quinze, devia ter sido feito por um homem usando um pseudônimo. Outro livro que já entrou para a minha listinha, e que ela escreveu quando tinha apenas 19 anos.
Quando se trata de pioneirismo, Rachel de Queiroz deve ser lembrada como uma das mais relevantes figuras do universo literário brasileiro. Em uma época de rejeição à produção intelectual e criativa oriunda de uma mulher – no seu caso, para agravar, uma mulher do Nordeste –, ela trouxe novas perspectivas sociais, de gênero e abriu portas para que outras pudessem seguir seus passos. Foi uma das primeiras mulheres cronistas, a única aceita no movimento modernista brasileiro e a primeira a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. Sua história de vida é tão rica quanto seus romances, notoriamente inspirados nas experiências particulares de uma combativa mulher sertaneja. (Tag Et Cetera) Continue lendo.