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{Projeto Uns e Outros} Depois do baile de Tolstói + O herói da sombra de Cristóvão Tezza

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Estamos na reta final do Projeto Uns e Outros (entenda) e me veio um dos contos que estava bem curiosa para ler por ser do Tolstói, tenho Guerra e Paz na estante mas ainda não li nada do grande autor russo. Também nunca fiz nenhuma leitura do Cristóvão Tezza então estava completamente no escuro. Para mim os dois contos falam de como podemos nos desiludir com as pessoas pelas que estão a sua volta. Isso mesmo, preconceitos, ideais reacionários e violentos da família de um interesse amoroso podem melar uma relação?

No conto de Tolstói (leia aqui o conto), Depois do Baile, temos um narrador que está contando do seu primeiro grande amor, uma dama linda da sociedade, para os seus amigos. Mas um flagrante do pai da moça, militar, sendo extremamente cruel o faz rever seus conceitos. Na releitura de Tezza a história é um pouco mais inusitada, contada com um ar cômico, a personagem principal é uma mulher que também está contando para a amiga como quase se envolveu com um vendedor de carros, mas ao conhecer seu pai ela acabou querendo fugir da situação. O que vocês acham disso? Vale a pena se envolver com pessoas que tem pais ou mães com valores completamente errados? Ou o alvo do interesse não tem culpa e é melhor continuar investindo? Virou quase Casos de Família essa resenha hahahaha

Outro ponto que vale analisar é o contexto histórico, no caso do conto de Tezza, que se passa nos dias de hoje, ele toca na ferida da ditadura. Em como ainda temos pessoas de idade que pertenceram ao exército e fizeram parte dos governos ditatoriais trabalhando em órgãos de repressão e ainda acreditam que não fizeram nada de errado. Ou pior que seus filhos e outros parentes coloquem panos quentes nas atitudes dessas pessoas.

tolstoiLiev Tolstói é um dos maiores escritores russos de todos os tempos, deixou inúmeros romances e dezenas de contos. Destaque para Guerra e paz, Anna Karenina e A morte de Ivan Ilitch. No final da vida, defendeu o ideal de uma espécie de anarquismo cristão.

cristovaoCristovão Tezza nasceu em Lages (SC), em 1952, mas vive em Curitiva há mais de cinquenta anos, dedicando-se a literatura. Escrever, entre outros, os romances, Trapo, Uma noite em Curitiba, O fantasma da infância, O fotógrafo, Um erro  emocional, O professor e A tradutora. Seu romance O filho eterno recebeu os mais importantes prêmios literários do Brasil e foi adaptado para o cinema.

Ainda não conhece o projeto? Estou lendo em conjunto com os blogs Ponto para LerLeitora Sempre e Jeniffer Geraldine os contos do livro Uns e Outros publicado pela Tag Experiências Literárias (um clube de livros por assinatura, saiba mais clicando aqui). Os encontros trazem contos clássicos já publicados com releituras de autores de língua portuguesa, nós sorteamos a ordem e montamos um calendário para cada blog (entenda melhor sobre o projeto). Na próxima falaremos sobre os contos Pai contra mãe de Machado de Assis e Pipa Sande de Paulo Lins.

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{Projeto Uns e Outros} Teoria do Medalhão – Machado de Assis + O futuro político – Milton Hatoum

178e8db0-e5ea-49e7-b04b-2424a45073d3Estou atrasada no projeto mas voltei (entenda sobre o projeto aqui)! Dessa vez vou falar sobre um par de contos com uma grande crítica social, cada um a sua maneira. No de Machado, Teoria do Medalhão, temos quase um monólogo do pai para o filho, que cansa em alguns momentos mas se você ficar atento aos absurdos que o pai fala dá até vontade de rir. E no conto de Hatoum, a releitura, temos um debate acalorado em que o pai tem propósitos bem parecidos.

O pai de Teoria do Medalhão aproveita o aniversário de 21 anos do filho para explicar o que ele deve fazer para ser alguém importante na vida, um “Medalhão”. Perdi um tempinho confusa tentando entender o que era ser um Medalhão, mais aos poucos a ficha cai, ele usa o termo para definir uma pessoa respeitada na sociedade (rica e etc.). As ideias são bem retrógradas: não falar de mais, não expor suas próprias ideias, não ter uma opinião própria, se cercar das pessoas importantes e por aí vai. O filho quase não fala nada, só acha a missão difícil. É quase cômico alguns argumentos, uma excelente crítica para a época, e para a nossa também, e foi isso que Milton Hatoum enxergou para fazer sua releitura.

(…) proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achatadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc. (Teoria do medalhão – Machado de Assis)

No conto O futuro político, que se passa nos dias de hoje, pai e filho tem uma discussão acalorada, o jovem dessa vez claramente não quer seguir os passos do pai. O pai é um advogado criminalista que defende políticos corruptos, acredita que tudo é normal e justificável, não tem lições muito diferentes do do primeiro conto, que é até citado. Isso aparentemente ocorre depois de uma festa de formatura em que o filho fez um discurso acalorado na frente dos convidados importantes e mafiosos do pai, e mais revelações surgem durante esse pequeno conto. Mandou bem Hatoum!

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Milton Hatoum nasceu em Manaus (AM), em 1952. Foi professor de literatura na Universidade do Amazonas e na Universidade da Califórnia (Berkeley). É autor dos romances Relato de um certo Oriente, Dois irmãos (muito bom!), Cinzas do norte, Órfãos do Eldorado e do livro de contos A cidade ilhada. Em 2014, publicou a coletânea. Um solitário a espreita. Seus livros ganharam vários prêmios e foram traduzidos em quatorze idiomas. Mora em São Paulo e é cronista do caderno 2. (Fonte: Uns e Outros).

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{Projeto Uns e Outros} Os desastres de Sofia (Clarice Lispector) e Simplício (Eliane Brum)

178e8db0-e5ea-49e7-b04b-2424a45073d3Hoje no Projeto Uns e Outros mais dois contos espelhados: Os desastres de Sofia de Clarice Lispector e Simplício de Eliane Brum.

A primeira acredito que dispense apresentações, já posso dizer que não sou tão novata nas leituras de Clarice mas é sempre assim que me sinto, nunca sei o que esperar e sempre fico sem saber direito o que senti depois do texto, poucos são os que terminei dela com um pensamento definido.

Confira mais posts sobre livros de Clarice e sua vida clicando aqui.

Os desastre de Sofia está no livro “Felicidade Clandestina” (1971) que reúne diversos textos de Clarice Lispector que foram escritos em diferentes fases da vida da autora. Esse conto parece muito claro na forma que é narrado, mas será que entendemos mesmo os sentimentos de Sofia já que nem ela mesmo se entende?

A narradora conta uma situação de quando era criança, quando era uma menina que gostava de atrapalhar a aula do professor, falando e brincando, ela sentia a necessidade de atormenta-lo e via a raiva que causava. Uma espécie de amor inexplicável já que ela não o admirava realmente. Também sentia que não fazia nada da forma correta. Por fim, pós clímax do conto, ela analisa como os adultos na verdade são comuns e tolos, não necessariamente melhores que as crianças. E isso causa a decepção de que no futuro ela seria uma pessoa melhor só por crescer.

Preferia sua cólera antiga, que me ajudara na minha luta contra mim mesma, pois coroava de insucesso os meus métodos e talvez terminasse um dia me corrigindo: eu não queria era esse agradecimento que não só era a minha pior punição, por eu não merecê-lo, como vinha encorajar minha vida errada que eu tanto temia, viver errado me atraía.

E Eliane Brum?

Eliane fez o esperado do conto espelhado desse, dar a versão do professor. No primeiro não temos certeza do efeito causado da menina no professor, por só termos a visão dela. Já nesse aqui está a “resposta”, os calafrios, a vergonha e a quentura causada por ela e seu interesse inexplicável. O professor desse conto sabe que é pecado querer qualquer coisa com a menina mas isso não o impede de sentir o que não pode. Essa parte incomoda porque associamos logo a pedofilia, principalmente quando ele fala que ficou pensando nela enquanto dormia. ><

Mas o principal é que temos um homem atormentado, um adulto infeliz com a profissão de professor nos moldes que a vive, ele mesmo fala de como assassina o interesse dos alunos e a língua nas aulas e teme que a menina enxergue tudo dele por dentro. Sua imobilidade, de “homem-mesa”, fica evidente quando ele percebe a capacidade de correr por aí da menina, e isso de certa forma o faz querer derruba-lá.

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Nascida em 1966, em Ijuí (RS), é uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. Escritora, repórter e documentarista, tem seis livros publicados: cinco de não ficção _ Coluna Prestes, o avesso da lenda, A vida ninguém vê, O olho da rua, A menina quebrada e Meus desacontecimentos _ e um romance, Uma duas. Também ajudou a escrever roteiros de documentários e atualmente se dedica a reportagens na Amazônia, é colunista do jornal El país. (Fonte: Uns e Outros)

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No próximo sábado falaremos sobre os contos Teoria do Medalhão de Machado de Assis e O futuro político de Milton Hatoum.

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{Projeto Uns e Outros} Eveline – James Joyce) e A morte da mãe – Beatriz Bracher

178e8db0-e5ea-49e7-b04b-2424a45073d3Esses dois contos da vez do livro Uns e Outros (coletânea da Tag Experiências Literárias) não me tocaram tanto, e a releitura achei um pouco confusa apesar da proposta “diferentona” da autora. O post de hoje faz parte do Projeto Uns e outros (saiba mais).

No conto de James Joyce temos a jovem Eveline que concordou em fugir para se casar. Ela vive com o pai opressor, órfã de mãe, e trabalha duro para ajudar a manter a casa e cuidar dos irmãos. Eveline prometeu a mãe que cuidaria de tudo e isso é o que mais afeta suas atitudes e decisões. Ela também tem dois irmãos mais velhos, um falecido e Harry que trabalha viajando e decorando igrejas. A questão que não cala no conto é se ela vai partir ou ficar, a batalha entre permanecer entre as raízes ou procurar algo melhor.

A releitura de Beatriz Bracher traz a mesma história, mas toda fragmentada, pensamentos de um personagem aqui, conversas de outros ali. Bom para imaginar o que os outros personagens pensavam do caso, já que no de Joyce só temos os pensamentos de Eveline E ela além de ter escrito algumas partes, copiou outras de textos do próprio Joyce que são apontados no final do conto. Eu acabei achando um pouco desconexo e complicado de entender, apesar de ela ter achado algumas passagens que realmente pareciam falar dos personagens do conto. Talvez alguém que goste muito dos livros do Joyce, eu ainda não li nenhum, goste muito da experiência (ou não rs).

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James Joyce (1882-1941) – Irlandês, revolucionou a estrutura narrativa da ficção ao publicar, 1922, o romance Ulisses, no qual utiliza, com radicalidade, o fluxo de consciência. Seus contos estão reunidos em Dublinenses.

 

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Beatriz Bracher – Nasceu em 1961, publicou os romances Azul e dura (2002), Não falei (2004), Antonio (2007), Anatomia do paraíso (2015) e outros livros de contos, todos pela Editora 34.  Também escreveu contribuiu para roteiros cinematográficos.

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No próximo sábado falaremos sobre os contos Os desastres de Sofia (Clarice Lispector) e Simplício (Eliane Brum).

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{Projeto Uns e Outros} Enganos com Guy de Maupassant e Maria Valéria Rezende

178e8db0-e5ea-49e7-b04b-2424a45073d3Oi pessoal! De volta com o Projeto Uns e Outros (saiba mais aqui – últimos dias para participar do sorteio) vou falar hoje sobre os contos: O colar de Guy de Maupassant e Um simples engano de Maria Valéria Rezende. A proposta desses contos que estão no livro Uns e Outros da Tag Experiências Literárias é que o autor contemporâneo faça um conto espelhado, uma espécie de releitura livre de um conto já conhecido. Gostei muito de como Maria Valéria Rezende tratou o tema, situando o no nosso cenário de desigualdade social.

Antes falando de O colar: nele conhecemos um jovem que apesar de bela é pobre, então que não adianta ter grandes aspirações e  se contenta em casar com um escriturário. Vive bem infeliz apesar de o marido fazer tudo para que ela seja fique bem. Ela não se contenta com a vida que tem, gostaria de ter muito mais, é uma personagem fútil. E um dia o marido consegue que eles sejam convidados para um grande baile, ela consegue que ele gaste as economias com um vestido e pede uma joia emprestada a uma amiga rica. É o que acontece depois do baile que os faz descer mais de classe social, ensina a esposa que as coisas podem ficar muito piores. Que ela devia ser grata pela vida que tinha antes e tudo o mais. Mas o final também ensina como a desigualdade social é cruel, como bem materiais podem significar sonhos para uns e para outros que já vivem de forma rica não é nada demais.

E gostei muito que Maria Valéria conseguiu manter isso, numa realidade bem mais próxima de nós. No conto dela conhecemos Matilde, que mora no morro e sonha sair dele. Escolhe o marido que tem mais chance de sair dessa vida também, alguém que mora quase no asfalto e é branco como ela. Isso é bem enfatizado. Ele trabalha como telemarketing e ela como manicure, os dois aos pouquinhos vão crescendo, ele na faculdade e ela fazendo a unha de forma exclusiva para pessoas ricas. Mas ela também nunca está feliz.

Quando ele se forma e vai subindo de cargo na empresa também surge uma festa. E o cenário se repete, dessa vez o que é tomado emprestado é um carro. E mais uma vez temos um engano anunciado. Gostei que aqui não é só a mulher que é deslumbrada pelo luxo, o marido também tem sua parcela de culpa na história. E de novo a desigualdade social, o sonho ligado ao consumo e a diferença dos valores é esfregada na nossa cara.

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Henry René Albert Guy de Maupassant foi escritor, poeta e um dos maiores contistas de todos os tempos. Sua obra é conhecida por retratar situações psicológicas e fazer crítica social com técnica naturalista. Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, muitas das quais algumas se tornaram mundialmente conhecidas, como Bola de Sebo, O Colar, Uma Aventura Parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett e O Horla.  Rico e famoso, ele teve muitos casos amorosos, mas a sífilis o atormentou por mais de uma década, ocasionando-lhe pesadelos, angústia e de alucinações. Em 1892, Guy de Maupassant tentou o suicídio. Morreu, porém, no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade, em consequência de complicações da sífilis. (saiba mais)

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Maria Valéria Rezende –  Nasceu em 1942, em Santos (SP). Dedica-se desde 1960 à educação popular. Vive na Paraíba desde 1976. Seu primeiro livro de ficção, Vasto Mundo, é de 2001, seguidos dos romances O coo do guará vermelha (traduzido em vários países). Quarenta dias (Prêmio Jabuti de 2015, romance e melhor livro de ficção), Outros cantos ( Prêmio Cada se las Américas 2017). Também recebeu o Prêmio Jabuti em 2009 (infantil: No risco do caracol ) em 2013 (juvenil: Outro dentro da cabeça).

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No próximo sábado falaremos sobre Eveline (James Joyce) e A morte da mãe (Beatriz Bracher).