Por Elena Wesley
Sinopse: Tessalônica, 1917. No momento do nascimento de Dimitri Komninos, o fogo devasta a cidade multicultural onde cristãos, judeus e muçulmanos convivem. Cinco anos depois, a jovem Katerina foge para a Grécia quando sua casa na Ásia Menor é destruída pelo exército turco. Ao se perder da mãe em meio ao caos, ela acaba em um navio cujo destino é desconhecido. Desde esse dia, as vidas de Dimitri e Katerina se entrelaçam: entre si e com a história da cidade. Fruto de uma pesquisa meticulosa, O fio tem como cenário a tortuosa história política da Grécia no século XX. A narrativa emocionante de Victoria Hislop — também autora de A ilha e O retorno — une ficção e história ao contar a saga de duas famílias na segunda maior cidade grega.
Essa resenha foi feita pela minha amiga Elena Wesley, que é uma devoradora de livros também, além de escrever muito bem. Espero que gostem!
Deuses, guerras e grandes líderes. Pelo menos um destes elementos é o primeiro que vem à cabeça quando o assunto é Grécia. O pouco conhecimento que temos daquele país na linha tênue entre Europa e Ásia se restringe basicamente ao período antes de Cristo, quando os filósofos se reuniam na polis para discutir as questões da cidade e cujas indagações resultaram em tantos pensamentos importantes para construir a cultura política ocidental.
Mas a Grécia de O Fio é outra. A obra de Victoria Hislop se ambienta no século XX, com momentos históricos que nos são familiares, como as guerras mundiais. A diferença é que, a maioria de nós não tem muita informação sobre o impacto destas disputas sobre outros países europeus.
O enredo se desenrola em Tessalônica, principal cidade do país depois da capital Atenas, e as transformações físicas, demográficas, sociais e políticas, pelas quais a região passou a partir de 1917. Naquele período, a Grécia era um lugar plural em crenças, origens e hábitos, por reunir cristãos, judeus e muçulmanos em uma única população.
Entretanto, a valorização da diversidade cultural não duraria por todo o século. Em algumas décadas, incêndios e trincheiras, muita coisa mudaria na Rua Irini e em toda a Tessalônica. Com a maestria de uma costureira que nunca erra o ponto nem deixa linha sobrando no forro da roupa, Victoria Hislop tece a história da Grécia e a adorna com a trajetória de dois personagens principais – Katerina Zarafaglou e Dimitri Kominnis -, cujo amor surge e busca sobreviver em meio aos conflitos. E enquanto o romance se desenvolve, a autora se vale de outros personagens para abordar temas ainda tão atuais como a submissão do gênero feminino, a imposição dos pais sobre a vontade dos filhos, a aceitação da diferença; enfim, muitos motivos para se deixar conduzir pela agulha de Victoria Hislop.
A autora
Embora tenha estudado Letras em Oxford, a britânica Victoria Hislop parece não esconder o gosto pela pesquisa em História. Seu primeiro romance de maior destaque, A Ilha (2005), já retratava a região do Mar Mediterrâneo no século XX. Em 2008, O Retorno chegou às livrarias abordando o golpe de Franco na Espanha e as consequências da ditadura. A cativante narrativa de Victoria voltaria em 2011 com o lançamento de O Fio. Novas surpresas são esperadas quando a tradução de “The Sunrise” for concluída. (site dela)